Quando um grupo de investidores resolve montar uma empresa eles têm que decidir o valor do capital social da firma. Este é o valor inicial que eles vão investir. Eles também têm que estabelecer o número de ações em que este valor será dividido. Quer dizer: cada ação representa uma parte do capital social da firma. O número de ações recebido por cada investidor - ou acionista - depende do valor que ele investiu. Se o capital social inicial da empresa é R$1.000.000 e é estabelecido que cada ação terá um valor inicial de R$1, um acionista que investe R$100.000 receberá 100.000 ações.
Vamos imaginar que, no primeiro ano, a empresa tenha lucro e os acionistas aceitem a proposta da diretoria de reinvestir 75% do total deste lucro na firma. O saldo de 25% (não pode pagar menos que 25%, após certas deduções), então, seria distribuído aos acionistas.
O valor distribuído se chama dividendo. Se um acionista possui 10% das ações da firma, ele recebe 10% do dividendo. O pagamento do dividendo pode ocorrer uma vez por ano ou até mensalmente.
Note que se, no primeiro ano de operação, a firma tiver prejuízo, dificilmente um dividendo seria pago. Não é sempre assim: se a firma tiver prejuízo após vários anos de lucro, provavelmente seria pago um dividendo usando lucros reinvestidos anteriormente.
Que é a Bolsa de Valores
O que acontece se um de nossos acionistas quiser vender sua participação na empresa? Ele pode vender suas ações para um outro investidor, mas provavelmente ele terá dificuldade em encontrar um interessado. E se achar seria difícil para as duas partes chegarem a um preço comum para a transação. A bolsa ajuda superar estes problemas.
Após satisfazer certas condições, a empresa pode se registrar numa bolsa de valores (como a Bolsa de São Paulo) e ter suas ações "cotadas" publicamente. Isso significa que o acionista que desejar vender suas ações pode anunciar para todo mundo, através da bolsa (usando uma corretora), a quantidade de ações que deseja vender e o preço pretendido. De maneira semelhante uma pessoa que quer comprar ações da firma pode anunciar a quantidade de ações que deseja comprar e o preço que pagará.
Com vários compradores e vendedores potenciais em atividade alguns logo chegarão a um acordo sobre preço e negócios serão fechados. Durante o dia as ofertas de compra e venda, e os preços pagos, são expostos num quadro na bolsa (e em telas de computador no país inteiro). E no dia seguinte um resumo das operações é publicado pela bolsa e pelos jornais. Tipicamente este resumo contém, para cada ação (ou "papel"), o preço no início e no fim do pregão (preço de abertura e de fechamento), os preços máximo, mínimo e médio, e a variação com relação ao dia anterior.
Também contem a quantidade de ações negociadas, e possivelmente o número de transações individuais. Assim vemos que a primeira vantagem da bolsa é:
· um mercado onde investidores, sob condições normais, podem comprar e vender ações com facilidade e transparência.
· Venda de novas ações.
A grande vantagem da bolsa, no entanto, é a oportunidade que ela oferece para nossa empresa de obter dinheiro novo para investir, através da venda de novas ações. Uma vez "listada" (registrada) em bolsa a firma será estudada por analistas e investidores. Se eles acharem que seu potencial para produzir lucro for bom, eles recomendarão a compra de suas ações. Na medida que as ações atraírem compradores seus preços tenderão a subir. Isso beneficiará a empresa quando decidir vender novas ações: o preço da venda da subscrição é normalmente estabelecido a partir do preço da ação negociada em bolsa (geralmente é um pouco menor).
Quanto mais alto o preço da nova ação, mais barato será o custo do capital obtido. Ações novas não são vendidas no pregão mas normalmente podem ser encomendadas ao banco encarregado da venda através da bolsa por uma corretora. Ou podem ser compradas diretamente ao banco pelo interessado. É claro que, se os analistas acharem que as perspectivas da firma são ruins, o preço de sua ação provavelmente cairá.
Uma fonte alternativa de capital
Se o reinvestimento de lucro for insuficiente para financiar os investimentos pretendidos, a empresa tem outras opções para obter capital, além da emissão de novas ações. Pode pedir um empréstimo no banco ou pode vender bônus. Bônus (debêntures, por exemplo) são títulos subscritos por investidores, através de corretoras, de maneira parecida com ações. Além de companhias e bancos, governos também emitem bônus. Diferente de ações, os bônus pagam juros sobre o valor emprestado e após um período predefinido de, tipicamente, 1 a 5 anos, o valor original emprestado é devolvido para o investidor.
Freqüentemente os bônus também podem ser comprados e vendidos após sua emissão. Mas mesmo que o valor de um bônus varie durante sua vida, como resultado destas transações, sempre terá seu valor original no seu vencimento.
Para uma empresa, há uma diferença fundamental entre capital levantado em forma de ações e em forma de bônus. Primeiro, enquanto a firma pode reduzir os dividendos pagos aos acionistas num ano em que o lucro for pequeno, não pode reduzir os juros pagos aos detentores dos bônus.
Em contrapartida, enquanto a posse de ações dá ao investidor uma participação direta nos lucros da firma, e certos poderes sobre sua administração (um voto na assembléia geral, por exemplo, no caso de ações ordinárias), os direitos dos debenturistas se restringem ao valor emprestado e os juros incidindo sobre o mesmo. Segundo: se o preço da ação da empresa for alto, provavelmente custaria menos levantar novo capital através da venda de ações, especialmente se o nível de juros na economia for também alto; e se o preço da ação da empresa for baixo, seria mais interessante emitir debêntures, especialmente se os juros estão baixos. Se uma empresa tem muito capital em forma de bônus (sobre o qual é obrigada a pagar juros fixos), é considerada muito "alavancada" por causa do maior risco que ela corre de passar por dificuldades financeiras
Uma carteira teórica das ações mais líquidas da bolsa.
É importante, até para um novato da bolsa de valores, conhecer o Índice Bovespa (ou Ibovespa). Quando dizem que o "mercado" subiu 5%, não é a média do mercado todo que subiu, mas o Índice. O Ibovespa nada mais é que o valor de um conjunto das ações mais negociadas (mais "líquidas") da bolsa. É uma carteira teórica que tem sido elaborada ininterruptamente desde 02/01/68.
As ações que fazem parte da carteira são escolhidas de acordo com uma fórmula que considera tanto o número de transações de compra e venda, quanto o valor destas transações, nos 12 meses que antecedem o cálculo. A composição do Índice é representativa de 80% do valor negociado no período. Dependendo de sua liquidez (medida por um "índice de negociabilidade"), para cada ação é alocado um peso no Índice, que se traduz em um determinado número de ações da empresa em questão na carteira teórica. A Telebrás PN (de fato agora um "recibo" que representa um conjunto de ações do antigo grupo Telebrás) foi a mais negociada em 1998 e por isso tem o peso maior do Índice atual: 38%.
A cada 4 meses a composição do Índice é recalculada, em base das transações efetuadas nos 12 meses anteriores. As quantidades de cada ação na carteira só mudam, entre as datas em que é feito o recálculo, em função de pagamento de dividendos, venda de direitos de subscrição ou recebimento de bonificação de novas ações. Qualquer valor (teórico) recebido nos dois primeiros casos é considerado reinvestido em novas ações e estas estão acrescidas, junto com novas ações geradas por bonificação, à quantidade previamente definida.
Durante o pregão o Índice é atualizado continuamente para refletir as alterações nos preços de suas ações constituintes. Como no caso de ações individuais, além da divulgação em tempo real durante o pregão, o valor do Índice na abertura e no fechamento do pregão, e seus valores máximos, mínimos e médios durante o pregão, são publicados nos jornais no dia seguinte.
Normalmente uma empresa cria dois tipos de ações:
· ordinárias e
· preferências.
O número de preferenciais não pode ultrapassar 2/3 do número total de ações.
Algumas empresas, no entanto, só têm ações ordinárias. As ações ordinárias dão a seus detentores o direito de votar na assembléia geral onde, entre outras coisas, se elegem o Conselho Administrativo da companhia (é o Conselho que elege os diretores).
As ações preferenciais só têm direito a voto em situações muito restritas. Em contrapartida, se definido no estatuto da empresa, podem ter direito de (entre outras coisas) receber um dividendo mínimo ou fixo, como percentagem do lucro ou do capital social. Se não tiverem nenhuns destes direitos, são garantidas dividendos 10% maiores que os dividendos pagos às ordinárias.
Formas
Nominativas
Cautelas ou certificados que apresentam o nome do acionista, cuja transferência é feita com a entrega de cautela e a averbação de termo, em livro próprio da sociedade emitente, identificando novo acionista.
Escriturais
Ações que não são representadas por cautelas ou certificados, funcionando como uma conta corrente, na qual os valores são lançados a débito ou a crédito dos acionistas, não havendo movimentação física dos documentos.
1) Se puder precisar de seu capital nos próximos 5 anos, não o invista em ações.
2) Se não utilizar a técnica certa é possível que nem em 10 anos vá ter retorno.
3) Se não for capaz de ver seu investimento cair em 50% sem se desesperar, também não invista em ações.
4) Se não puder investir R$10.000 ao longo de um ano (em ações e renda fixa), por enquanto aplique seu capital, meio a meio, em um fundo de renda fixa (ou poupança) e um fundo de ações que reflita a composição do índice Bovespa.
1) Tudo tem risco. Com a técnica certa, que para um investidor defensivo não é difícil de aprender, a chance de perder com uma carteira de investimentos, corretamente montada, que é mantida durante, vamos dizer, 5 anos, é pequena.
2) Historicamente, em mercados desenvolvidos, investimento em ações tem oferecido um retorno significativamente maior - e maior proteção contra inflação - que investimento em renda fixa.
1) Enquanto qualquer novato, com um razoável volume de capital a sua disposição, consegue um rendimento igual ao mercado (representado, por exemplo, pelo índice Bovespa), a maioria dos fundos de ações não tem sido capaz deste feito. (Para não sermos injustos devemos reconhecer que se a grande parte do mercado fosse composta de fundos, uma metade deles teria, obrigatoriamente, resultados abaixo da média.
2) Como a primeira observação deixa claro, nem os especialistas conseguem fazer previsões precisas: o futuro, realmente, a Deus pertence.
3) Uma combinação de renda fixa e ações produz um mistura ideal de rentabilidade e baixo risco. A menor volatilidade da renda fixa (sim, o valor, em certas aplicações pode cair!) compensa em parte a alta volatilidade da bolsa porque juros altos tendem a coexistir com ações em baixa, e vice versa. E enquanto ações oferecem uma certa proteção contra inflação, esta praga pode reduzir o rendimento real da renda fixa.
4) Em longo prazo, o desempenho de ações - se compradas a preços históricos médios - acompanha o desempenho dos lucros das empresas. Quer dizer: um investimento em ações é um investimento no setor produtivo da economia. Se, como esperamos, a economia do Brasil, a partir deste novo milênio, voltar a crescer com vigor, as empresas e suas ações vão se beneficiar.
5) Exceto em situações muito especiais, rigorosamente ninguém sabe o verdadeiro valor (ou valor "justo" ou "intrínseco") de uma ação. Teoricamente é o valor hoje de todos as receitas a serem embolsadas durante a vida da companhia pelo detentor do papel. Mas ninguém sabe nem o valor aproximado destas receitas porque depende da evolução de uma multiplicidade de variáveis. Na verdade o valor justo da ação terá uma ampla faixa de possíveis valores. Pior, o efeito é alavancado: uma pequena variação em determinadas variáveis produz uma grande variação na estimativa do valor justo da ação. É por isso que há grande volatilidade nos preços das ações. É também a razão porque se encontra com freqüência ações supervalorizadas ou subvalorizadas.
Dois mundos de investimento em ações.
Há dois mundos de investimento em ações e um abismo entre eles. O primeiro é habitado por figuras excitantes e exóticas: growth companies (empresas de crescimento acelerado), turnarounds (empresas que passam de quase-falência para lucro), cíclicas (empresas cujas vendas e lucros seguem um ciclo), asset plays (empresas que têm ativos valiosos mas poucos sabem disso), etc.
O segundo tem entes sem cor e meio chatos: margem de segurança, diversificação, longo prazo, risco. O primeiro mundo é o mundo do profissional (que não, por isso, necessariamente faz sucesso - pode ganhar bem administrando mal o dinheiro dos outros) que dedica 10 horas por dia a ele. Podemos também ser profissionais mas para isso temos que nos dedicar a este mundo em tempo integral. O segundo mundo é o mundo do amador inteligente que se interessa pelo mercado de ações. Aqui uma pessoa pode obter um rendimento bom ao longo dos anos dedicando, vamos dizer, uma noite por quinzena ao assunto. Este amador, utilizando técnicas simples, não terá muita dificuldade em ultrapassar a performance da média dos fundos.
É claro que muitos não resistirão as emoções do dia a dia do mercado. Tudo bem, mas estes devem se conscientizar do risco envolvido e só aplicar uma parte pequena de seus recursos totais em operações mais especulativas.
Benjamin Graham
O pensamento do Benjamin Graham, um dos fundadores da análise moderna de valores mobiliários (e pai das técnicas de investimento em valor ou "value investment") permeia toda nossa abordagem. Nos casos da Carteira Defensiva e da Carteira Agressiva (suspensa) a ligação é direta: só modificamos suas estratégias quando a situação no Brasil, ou limitações de dados assim exigem. Vamos relembrar as lições mais importantes do mestre de investimento em valor para o pequeno investidor:
1. Para se garantir contra condições econômicas e financeiras adversas no futuro, divida seu capital entre ações e renda fixa da primeira linha: quando a bolsa se comportar mal a renda fixa, em geral, tem bom desempenho e vice-versa.
2. Para minimizar o risco de perda, diversifique-o entre um mínimo de 10 grandes empresas com boas posições financeiras e com bons comportamentos passados.
3. Para maximizar a possibilidade de lucro, assegure uma boa e quantificável margem de segurança entre o preço da ação e o valor da ação.
4. No caso do investidor defensivo, se ele comprar suas ações a preços compatíveis com suas médias históricas, sua margem de segurança será garantida pela taxa normal de crescimento de suas empresas que, no longo prazo, se refletirá nos preços de suas ações.
5. Para assegurar que o preço médio de suas compras não divirja muito dos preços médios históricos do mercado é necessário fazer compras espaçadas de valores iguais. Por exemplo: se planejar investir R$5.000 em ações anualmente (que supõe um valor igual aplicado em renda fixa), invista R$1.250 na mesma data a cada trimestre (ou R$2.500 a cada semestre). Idealmente, este procedimento seria mantido durante pelo menos 5 anos.
6. O investidor agressivo pode tentar aumentar sua margem de segurança, e em conseqüência seus ganhos, através de uma estratégia de investir em empresas aparentemente subvalorizadas.
O interesse de muitos acionistas mal aconselhados se restringe às perspectivas de ganho de capital (valor da venda menos valor da compra). Ignoram uma série de operações à disposição de administrações de empresas que podem afetar, por bem ou por mal, seus investimentos. Na verdade, dependendo de suas características, estas operações, que discutiremos em seguida, podem trazer benefícios, infligir prejuízos, ou ter efeitos praticamente inócuos. Nenhuma delas, no entanto, deve ser ignorada.
Vimos:
· O que são ações?;
· Quais são os tipos de ações?;
· O que são dividendos?
Pode parecer óbvio que dividendos são bons, e grandes dividendos melhores ainda. Não é necessariamente a verdade.
Se uma administração reduzir o percentual do lucro pago em forma de dividendo (o "payout"), uma proporção maior do lucro será reinvestida na firma. A firma, em conseqüência, crescerá mais rapidamente, gerando no futuro mais lucro e dividendos do que antes. Teoricamente, portanto, se uma administração conseguir um retorno maior, reinvestindo o lucro que seria distribuído como dividendo, do que o acionista poderia obter depositando este mesmo dividendo em um fundo ou outro investimento, é melhor o acionista não receber o dividendo.
Na prática é possível que o acionista precise de um dividendo regular, ou nem tenha condições de avaliar o retorno que a empresa oferece. De qualquer maneira, se a empresa tiver lucro, a lei exige pagamento de um dividendo. Mas é muito importante compreender o efeito de níveis diferentes de payout de dividendo, e entender que um payout alto não é, necessariamente, a melhor opção. Do ponto de vista da empresa, o nível de payout depende de onde a firma se encontra em seu ciclo de vida.
Uma empresa em fase de forte expansão terá grande necessidade de capital. Em conseqüência, provavelmente pagará um dividendo pequeno. Em contrapartida, uma empresa madura, com forte geração de caixa, será bem mais generosa.
Se uma empresa tem folga de dinheiro pode aumentar o nível do dividendo. Mas também pode recomprar suas próprias ações na bolsa (uma operação de "buyback") para cancelamento posterior. Esta operação também beneficia o acionista porque tem o efeito de aumentar o preço das ações que continuam no mercado (o mesmo lucro será distribuído entre menos ações). Também provoca efeitos positivos secundários: manda sinais para o mercado de confiança no futuro do negócio e de consideração para com os interesses dos acionistas.
É claro que um buyback tem que ser uma operação muito bem regulada para evitar a possibilidade de uma administração tirar vantagem de sua posse de informações confidenciais. De fato, alguns países proíbem o procedimento.
Vimos em o que é a bolsa de valores? que uma empresa pode levantar novo capital acionário através de uma subscrição. A não ser que seja definido o contrário no estatuto da empresa, os acionistas existentes têm preferência na subscrição, na proporção das ações possuídas. Como incentivo, o preço estabelecido para as novas ações é normalmente um pouco menor que o preço na bolsa.
Se a subscrição representar uma percentagem pequena do número de ações existentes (10% por exemplo), e o preço não for muito diferente do preço negociado em bolsa, o efeito da subscrição será pequeno. É uma forma relativamente indolor para o acionista aumentar um pouco seu investimento na firma. E se não quiser subscrever ele não vai sofrer nenhuma perda importante. Se, ao contrário, a subscrição representar, por exemplo, uma quantidade equivalente a 100% das ações existentes, e o preço da subscrição for uma metade do preço que o acionista existente pagou por suas ações, o prejuízo, se não subscrever, é certo. Porque?
Porque o número de ações vai dobrar e ele vai receber, de imediato, uma metade dos dividendos que receberia se não tivesse existido a subscrição. Num prazo maior a situação melhora um pouco porque, investindo o capital levantado pela subscrição, a empresa vai gerar maiores lucros e dividendos. Mas mesmo assim nosso acionista antigo que não subscreve vai sair perdendo: o novo acionista receberá estes mesmos dividendos após ter investido uma metade por ação que o acionista antigo investiu.
O grande problema aqui é que o valor que o antigo acionista teria que investir, para não sofrer "diluição" de seus rendimentos futuros, é grande. No exemplo considerado, representa o atual valor do total de seu investimento original. Aqui o pequeno investidor é o maior prejudicado porque, ao contrário de uma instituição, normalmente não possui reservas de caixa. O exemplo escolhido é intermediário entre as condições estabelecidas nas recentes subscrições de Inepar e White Martins.
A Lei de Sociedades Anônimas estabelecem que o preço da subscrição deve ser fixado "tendo em vista": "a perspectiva de rentabilidade da firma"; "o valor patrimonial líquido da ação"; e "a cotação da ação em bolsa". Mas principalmente estipula que "o preço de emissão deverá ser fixada sem diluição injustificada da participação dos antigos acionistas". Como pode ser visto: mesmo que a intenção da Lei seja claríssima, há um campo amplo de manobra para um advogado defender praticamente qualquer procedimento.
Bônus de subscrição, que dá o direito de subscrever um determinado número de ações a um preço predefinido, e debêntures conversíveis, títulos de renda fixa que podem ser convertidos em ações quando, por exemplo, o preço da ação atingir um nível predefinido, são fontes mais insidiosas de diluição de dividendos - se o acionista não exercer seu direito de subscrever.
Bonificações
Bonificações são emissões de novas ações que têm, como contrapartida, uma transferência contábil. Tipicamente, lucros, ou reservas, são incorporados ao capital social da empresa. As novas ações são distribuídas grátis para os acionistas, na proporção das ações possuídas. Mesmo que, na teoria, pode-se distribuir uma bonificação em ações em lugar de dividendos, na prática uma bonificação não significa nenhuma aumento no valor real da participação do acionista. Uma bonificação de 50%, por exemplo, significa que o acionista recebe uma nova ação para cada duas ações possuídas.
Com 50% mais ações em circulação parece lógico que o preço da ação cairá para dois terços de seu valor original. Mas como a mente do investidor em bolsa nem sempre funciona logicamente não é isso que sempre acontece. E de fato, se a bonificação melhorar a liquidez do papel, pode até existir uma justificativa plausível para um aumento no preço da ação
Se a empresa aumentar o número de ações sem uma contrapartida contábil, a operação se chama um desdobramento. Investidores em bolsa gostam de preços numa certa faixa: um ou dois dígitos são convenientes; decimais e três ou mais dígitos inconvenientes. Um preço inconvenientemente alto pode ser o resultado do crescimento normal de uma empresa, ou da inflação; o colapso de uma firma pode produzir um preço inconvenientemente baixo.
Aumentando o número de ações sem alterar o capital social, um preço alto por ação pode ser reduzido para o nível desejado. O efeito de um desdobramento é idêntico à concessão de uma bonificação - só que normalmente o número de novas ações é bem maior. Um desdobramento de 100% significa que haverá duas vezes mais ações em circulação e que o preço da ação teoricamente cairá para uma metade do seu preço antes da operação. E um desdobramento de 1000% resulta em 11 vezes mais ações, produzindo um preço que é um undécimo do valor anterior.
Durante épocas passadas de alta inflação os preços nominais das ações subiam a níveis absurdos. Para corrigi-los, algumas firmas efetuaram operações de desdobramento, outras não. A ridícula situação atual na bolsa onde há, lado a lado, ações cotadas por um e por mil ações é produto deste passado recente.
Um grupamento é o oposto de um desdobramento. Uma queda persistente de uma ação, por exemplo, pode produzir uma situação que requer um grupamento. O caso de Ferro Ligas, negociado por um ou dois centavos por mil ações, é um bom exemplo de uma situação que clama por um grupamento.
Corretoras tradicionais: uma espécie em extinção.
Para os pequenos investidores, as corretoras tradicionais representam uma espécie em extinção. Para eles, pelo menos, não há a menor dúvida que corretoras on-line representam o futuro. Vamos analisar suas vantagens.
Linha direta.
Enquanto no passado o pequeno investidor tinha que batalhar para passar sua ordem - contra a linha ocupada, contra o tempo do atendente, contra o problema de se identificar, contra investidores de maior importância - agora possui uma linha direta com a máquina.
Pode também, se ele preferir, mandar suas ordens à noite, com calma, na véspera do pregão.
Informações do pregão.
Antes da Internet era difícil para o pequeno investidor obter muito mais do que dados esparsos sobre uma ou outra ação pelo telefone da corretora durante o pregão. Ter uma idéia geral do mercado era impossível. Enquanto ainda há algumas limitações nos informações fornecidas on-line, entre os quais uma defasagem de 15 minutos nos dados é a mais séria, a situação melhorou em 1000%.
Notícias, análise e dados.
No passado, a grande maioria dos pequenos investidores não teve acesso a qualquer tipo de análise técnica séria através de sua corretora. Agora muitas corretoras usam a oferta de notícias e análise própria, ou de terceiros, para estimular a venda de seus serviços de corretagem.
Universalização do mercado.
No Rio e São Paulo esquecemos que, na época pré-Internet, muitas pessoas morando no interior não tinha nenhum acesso à bolsa. Não tinham nem bons jornais muito menos corretoras por perto. Tudo isso mudou. Consideramos este fator da universalização de acesso ao mercado o mais impressionante de todos.
Custo.
A possibilidade de corretoras on-line atraírem maior número de pessoas (porque podem oferecer seus serviços para o país inteiro e não somente à sua cidade) e processarem suas ordens por computador deve permitir a redução de comissões num ambiente competitivo. Isso sem falar na economia nos telefonemas dos pequenos investidores morando nas cidades interioranas. É verdade que muitas corretoras tradicionais, embora não ofereçam negociação on-line, possuem sites que fornecem dados e análise. Mas isso não neutraliza a grande vantagem de seus colegas on-line nas outras áreas.
Entidades nebulosas no cíber-espaço aumentam a desconfiança.
Corretoras on-line não possuem desvantagens? Possuem.
A principal destas é o fato psicológico de os investidores não tratarem diretamente com seres humanos ou tijolos e cimento. É o fator confiança. Ninguém que tenha vivido no Brasil nos últimos 30 anos tem razão para confiar irrestritamente em banco ou corretora. Tratar com entidades nebulosas no cíber-espaço aumenta consideravelmente o nível de desconfiança das pessoas. Outra desvantagem é a questão de problemas e erros. Fica difícil ao pequeno investidor em Alagoas tirar satisfações de seu corretor em São Paulo.
Na prática você está sozinho.
Como é que você vai escolher sua corretora? Há 4 possíveis considerações: confiabilidade, serviços, custo e valor mínimo de uma operação. De fato estas se reduzem rapidamente para três porque praticamente nenhuma corretora estabelece, atualmente, um valor mínimo.
Idealmente, existiria uma agência de "rating" que avaliaria todas as corretoras no mercado na base dos quatro quesitos e que publicaria os resultados. Na prática você está sozinho e tem que pesquisar. Mas vamos tentar pelo menos estabelecer bases para a escolha.
Solidez x agilidade e foco.
A grande maioria de investidores não vai ter a menor idéia da situação financeira das instituições. Aqui os grandes bancos dispostos a concorrer no mercado levam vantagem. Ninguém vai se preocupar com a saúde de um Bradesco ou um Bozano, Simonsen, por exemplo. Pelo outro lado, os grandes bancos provavelmente não possuem a agilidade e o foco de uma corretora eficiente disposta a desbravar a nova fronteira financeira. Por enquanto o mercado é novo e as corretoras em campo são desconhecidas de seus clientes em potencial. Com tempo uma ou outra vai se destacar e criar uma reputação mais sólida (como a Charles Schwab ou a E-Trade nos Estados Unidos).
Mas é na área dos serviços que o investidor deve concentrar sua atenção. Inclusive porque bons serviços ajudam a assegurar a futura solidez da casa. Aqui o único jeito é acessar as corretoras on-line e tentar fazer uma avaliação. Muitos sites fornecem uma demonstração de seus serviços. A primeira coisa a observar é o tempo necessário para acessar o site durante o pregão. Praticamente todas as corretoras utilizam o sistema Home Broker "disponibilizado" pela Bovespa (parece que o Bradesco é uma exceção).
Não conhecemos todos os detalhes do sistema mas, como inclui o interface entre a Bovespa e as corretoras, significa que deve haver uma convergência entre as operações oferecidas pelas diversas corretoras.
Nos serviços de pregão não há escolha; nos serviços de análise há alternativas
É útil separar os serviços diretamente associados com as transações de compra e venda dos serviços das informações que subsidiam estas operações. Enquadra-se no primeiro grupo a provisão de dados do pregão e a comunicação, execução e registro das transações.
O segundo grupo abrange a análise de ações, companhias, setores, mercados e a economia.
No caso dos serviços de compra e venda, após optar por uma corretora, não há escolha. No caso dos serviços de análise o investidor tem muitas outras alternativas, incluindo nosso próprio boletim. Alias é bom procurar agentes neutros por que é do interesse da corretora estimular compras seja a época propícia ou não (uma oferece até "milhas"). Provavelmente você terá de se registrar como visitante para obter uma idéia dos serviços de análise disponíveis.
Comissões de 1-2%, mas custodia pode sair grátis.
Os custos envolvidos nas operações são principalmente de dois tipos: a comissão paga ao efetuar uma compra ou venda, e a taxa mensal de custódia. A primeira cai com o valor da operação e é, tipicamente de 1-2%. Todas as corretoras visitadas tinham a mesma tabela. A taxa de custodia varia de zero até R$20,00 por mês. Lembre-se também que há incidência de Imposto de Renda se o valor total das vendas de um mês ultrapassar R$4.143,50.
O investidor calcula 10% do ganho líquido obtido no mês, após descontar qualquer saldo de prejuízos de meses anteriores. O pagamento é efetuado até o fim do mês seguinte.
Só resta a burocracia.
Feita a pesquisa é só seguir as instruções no site para se tornar cliente. Tipicamente você pode fazer um downloading do cadastro/contrato que, após assinatura e reconhecimento da firma, é enviado pelo correio. Uma vez aceito o cadastro, pode fazer um depósito através de um DOC e começar a operar.
As operações e seu tempo de validade.
Comprar e vender ações através das corretoras on-line é fácil: é só entrar no site, acessar a página apropriada, preencher os dados e fazer um "clique". Mas antes é preciso fazer duas coisas: acessar os dados do pregão disponíveis no site para ver o nível de preços e os volumes sendo negociados; e decidir a forma da ordem a ser enviada, e por quanto tempo deve vigorar.
Se o preço de compra ou venda estabelecido não for alcançado pela ação, ou se não há mercado no papel (quer dizer, ninguém tem interesse em vender ou comprar), a ordem não será concretizada durante o pregão. Assim, para evitar a necessidade de renovar a ordem todo dia, o investidor pode definir a manutenção da ordem até que seja realizada ou cancelada por ele. A utilização de uma ordem "até cancelar" é muito útil no caso de ações pouco negociadas, ou quando o preço desejado estiver longe do preço atual. Uma ordem para somente um dia é apropriada quando o investidor quiser reavaliar a situação do mercado todo dia antes de restabelecer o preço de sua operação.
Existem quatro formas diferentes de ordens de compra ou venda, mas de longe as mais utilizadas são as Ordens A Mercado e Limitada. Vamos discuti-las uma por uma:
Ordem A Mercado.
Aqui o investidor não estipula o preço e, tendo oferta, a operação de compra ou venda é efetuada o mais rápido possível sob as condições de preço oferecidas no mercado.
A operação só deve ser empregada quando a ação em questão for bastante negociada. Se existir somente meia dúzia de transações por dia, o investidor corre o risco de obter um preço distante do desejado. A grande vantagem desta operação, no entanto, é sua rapidez.
Ordem Limitada.
Numa operação Limitada, o investidor estabelece o preço máximo que está preparado a pagar por uma ação (ou, numa venda, o preço mínimo que aceita receber). Parece a melhor opção porque evita sustos, mas nem sempre o é. O investidor pode estabelecer um preço que não foi alcançado no pregão. Avaliou-se que seria importante efetuar uma compra no dia em questão, por exemplo, dançou. No caso de papéis pouco negociados, no entanto, é a única operação viável.
Ordem Stop.
Esta operação não é regulamentada pela bolsa e depende de um acordo entre o investidor e a corretora. É pouco usada por investidores iniciante mas é muito útil, especialmente para pessoas que valorizam análise gráfica (ou "técnica"). Você pode projetar que uma ação atingirá um preço máximo, caindo em seguida. Ou prever que, se uma ação cair abaixo de um certo ponto, despencará. Ou ainda você pode querer fixar um limite para qualquer prejuízo.
Estabelecendo este nível, nos dois casos, como um Stop, a corretora é obrigada a emitir uma ordem de venda A Mercado imediatamente que o preço for atingido. Não significa que a operação seja efetuada, necessariamente, no preço Stop. Pode não haver mais oferta a este preço. Mas, uma vez atingido o preço estipulado, a ordem deve ser cumprida na primeira oportunidade. O raciocínio, no caso de uma operação de compra, é o inverso. Você pode, por exemplo, prever uma reação forte se o preço cair para um determinado nível, e querer garantir sua compra no movimento subseqüente.
Ordem Stop Limitada.
Esta operação, que é um refinamento da Ordem Stop, também não é regulamentada pela bolsa. Na ordem Stop simples, discutida no parágrafo anterior, quando o preço da ação chegar ao preço Stop estabelecido, uma ordem A Mercado é emitida. No caso de uma operação Stop Limitada uma ordem Limitada é emitida. Assim na ordem Stop Limitada dois preços são definidos: o preço ao qual é emitida a ordem Limitada e o preço máximo da compra (ou o preço mínimo da venda). Desta maneira é possível controlar melhor a imprevisibilidade de uma ordem A Mercado.
AVALIAÇÃO DE AÇÕES
Os valores mobiliários, representados por ações e debêntures, são emitidos pelas Sociedades Anônimas de acordo com aprovação prévia da CVM – Comissão de Valores Mobiliários. Cabe à CVM o disciplinar a emissão e a fiscalização do mercado de negociações de ações e debêntures.
A ação representa uma fração do capital social de uma Sociedade Anônima, sendo caracteristicamente definida como ativo de risco. A debênture, por seu lado, representa um título de crédito cujos rendimentos são calculados de maneira semelhante aos títulos de renda fixa.
Todas as aplicações em valores mobiliários equivalem, ao longo do tempo, a um problema de Matemática Financeira, isto é, produzem fluxos de caixa mediante os quais é possível medir a rentabilidade da operação.
1. – AVALIAÇÃO DE AÇÕES
Identicamente às demais operações financeiras, na avaliação de ações é necessário se construir fluxos de caixa, isto é, os fluxos dos benefícios econômicos de caixa esperados.
Fundamentalmente, os benefícios de caixa das ações são representados dividendos, parcela do lucro líquido que as empresas distribuem aos seus proprietários periodicamente, e valorização de sua cotação, ou seja, ganhos de capital promovidos pelo aumento dos preços das ações
O preço que uma ação está sendo normalmente negociada no mercado é denominado valor de mercado ou cotação. O valor presente do fluxo de benefícios esperados de caixa, descontados a uma dada taxa de juros (taxa de atratividade da aplicação), é definido por valor teórico de mercado ou valor intrínseco de uma ação. Estes dois valores são iguais caracteristicamente em condições de mercado eficiente.
As ações são consideradas aplicações de renda variável, pois os seus benefícios de caixa (dividendos e valorização) não são geralmente estabelecidos no momento da aquisição, variando em cada período como resultado de diversos fatores.
1.1 – APLICAÇÕES EM AÇÕES COM PRAZO DETERMINADO
Para o caso mais simples de uma aplicação financeira em ação por determinado período no qual não está prevista a distribuição de dividendos, o fluxo de caixa pode ser estabelecido a partir da seguinte representação gráfica:
Entradas de caixa
(Benefícios) Pn
0 1(período)
P0
Saídas de caixa
(Aplicação)
P0 = preço de mercado (aquisição) da ação em t0. Pode também representar o valor presente (PV) do fluxo de benefícios esperados de caixa;
Pn = preço de mercado esperado no momento da venda da ação.
A expressão de cálculo assume a forma seguinte:
onde k representa a taxa de desconto da operação, ou seja, a taxa de retorno periódica exigida pelo investidor.
1. Admita uma ação cujo valor de mercado atinja, em determinado momento $ 15,00. Sendo de 5% ao mês a taxa de retorno exigida por um investidor:
a. demonstrar a atratividade da compra dessa ação pelo investidor prevendo-se que o seu preço de mercado suba para $ 16,00 ao final de um mês;
b. se o investidor estimar que o preço de mercado dessa ação irá alcançar o valor de $ 15,50 ao fim de um mês, qual o preço máximo que ele poderia pagar hoje de maneira que apure um retorno mínimo de 5% ao mês?
P1 = $ 16,00
0 1 (mês)
P0 = $ 15,00
Þ Þ 1 + k = Þ k = 6,67%
O rendimento produzido nesta situação esperada atinge 6,67% no período, marca superior à taxa de retorno exigida pelo investidor de 5%. Logo, a alternativa de aplicação, considerando os benefícios esperados de caixa, é economicamente atraente.
b.
P1 = $ 15,50
0 1 (mês)
P0 = ?
P0 = $ 14,76 / ação
O preço máximo que o investidor poderia pagar pela ação, de forma a obter a rentabilidade mínima desejada de 5 % ao mês, é de $ 14,76. Logo, diante das expectativas de valorização da ação, o preço atual de mercado de $ 15,00 é alto para o investidor, não sendo atraente a sua compra.
Para a alternativa de aplicação financeira em ação por determinado período n, no qual são previstos pagamentos de dividendos, tem-se a seguinte representação gráfica:
Pn
Dn
D1 D2 D3 D4 D5
0
P0
sendo: D1, D2, D3, ......, Dn os dividendos previstos de serem recebidos ao longo do período de aplicação.
A identidade básica de avaliação dessa situação, adotando-se sempre o conceito de fluxo de caixa descontado, apresenta-se da forma seguinte:
Genericamente, tem-se:
Admita que um investidor tenha projetado em $ 0,70 e $ 1,00 os dividendos por ação a serem pagos, respectivamente, ao final de cada um dos próximos dois semestres. Tendo sido estimado, ainda, em $ 20,00 o valor de venda ao final do segundo semestre, e definida em 10% a.s., a taxa de retorno exigida pelo investidor para esta aplicação, pede-se:
a. determinar o valor máximo a ser pago hoje por essa ação de forma que o investidor apure um retorno equivalente a 10% ao semestre;
b. estando a cotação da ação atualmente fixada em $ 19,50, calcular a rentabilidade que se obteria na aquisição dessa ação respeitando-se as demais condições estabelecidas no exemplo.
Como montar uma carteira de ações
Por Juliana Rosa e Maria Teresa Carneiro
O investidor Luiz Peçano tem na ponta da língua as principais regras para montar uma carteira de investimento em ações. "O principal componente desse jogo é a liquidez", fala com a experiência de quem aplica há 33 anos na Bolsa de Valores. E ele está certo. Os analistas recomendam ter sempre em mãos papéis mais fáceis de ser vendidos, que normalmente são os mais procurados. Alguns de curto prazo acreditam que os papéis de maior liquidez são mais importantes em carteiras– de um a três meses. Outros acham que, as carteiras de longo prazo – de seis meses em diante – até podem ter ações menos negociadas, mas também não podem faltar as ações de maior liquidez.
Peçano revela, ainda, que é importante também não concentrar os investimentos em apenas uma ação ou setor. "Nunca aplico em um só setor ou ação mais do que 15% ou 20% do total de investimento", revela Peçano. O gestor de renda variável da Máxima Asset Management, Raphael Camara, assina embaixo e ressalta o limite de 15%. Ele diz que essa regra vale, principalmente, para as carteiras de curto prazo. "Diversificar é fundamental para diluir riscos", atesta Gustavo Alcântara, analista do Banco Prosper, que acredita que a regra também se aplica às carteiras de longo prazo.
Quando o assunto é as dicas na hora de montar uma carteira, as opiniões dos analistas variam muito, mas há alguns pontos que são indicados pela maioria, como liquidez e diversificação. Para uma carteira de curto prazo, os especialistas recomendam ainda observar sempre o movimento do mercado. De acordo com Gustavo Alcântara, analista do Banco Prosper, é necessário estar atento aos setores que têm potencial de alta naquele momento. Por exemplo, os papéis de telefonia sofrem grande influência da Nasdaq, a bolsa norte-americana de tecnologia, e, geralmente, caem quando a Nasdaq apresenta desvalorização. No entanto, num momento de reação da bolsa de tecnologia, tendem a acompanhar a alta. "É necessário estar atento às notícias em relação às empresas, setores e em relação à própria Bolsa", sugere Alcântara.
Segundo a analista do Banco Brascan, Clarissa Saldanha, além das mais líquidas, também são indicadas para carteiras de curto prazo as ações de empresas que estejam passando por algum momento importante, como privatização – o que é o caso da Cemig e da Copene - ou reestruturação societária, como é o caso da Vale do Rio Doce. Ela faz questão de lembrar, no entanto, que as carteiras de curtos prazos são apostas de alto risco.
Cenário econômico deve ser avaliado
"É fundamental analisar primeiro o cenário macroeconômico para verificar se é um bom momento para estar em bolsa", diz Camara, da Máxima. "Para os que preferem fazer operações de day trade (compra e venda de uma mesma ação num mesmo dia), por exemplo, é necessário olhar o cenário para aquele dia, incluindo o comportamento das bolsas lá fora, e o mercado de juros e dólar e também se será divulgado algum indicador econômico importante", ensina.
Alcântara também sugere que o investidor de curto prazo estabeleça limites para o prejuízo. "É necessário fazer isso só em caso de perdas e não para os ganhos. Por exemplo, se o investidor comprou um papel a R$ 100, estabelece que tolera um prejuízo até R$ 90, dependendo de cada um. Se o papel sobe para R$ 110, ele continua com a ação e estabelece um novo limite de perdas, de R$ 105, por exemplo, acima do investimento inicial", explica Alcântara. Já Raphael Camara, da Máxima, sugere que seja definido um limite tanto para ganhos quanto para perdas nas carteiras de curto prazo.
Os analistas também explicam que, nas carteiras de curto prazo, os investidores devem olhar análises gráficas para saber o melhor momento de entrar na Bolsa, mas também não devem esquecer das análises fundamentalistas, que mostram o potencial de crescimento de cada setor e empresa.
Quem faz aplicações de curto prazo deve se proteger
O diretor da corretora Diferencial, Zulmir Tres, ensina que quem escolhe aplicações de curto prazo deve sempre se proteger, fazendo um hedge no mercado futuro, comprando opção ou aplicando no Índice Bovespa. Já o analista técnico Jayme Ghitnick não sugere aplicações no mercado à vista para o curto prazo. Segundo ele, os que preferem aplicações de períodos mais curtos devem optar direto pelo Índice Futuro ou Opções.
Já para quem tem tempo de esperar o retorno, os especialistas indicam a compra também de papéis que não sejam tão procurados, mas com boas perspectivas. De acordo com Camara, no longo prazo, não é tão importante olhar o papel dentro do setor com o preço mais barato. "O fato de uma empresa ter um preço sobre lucro maior do que outras compensa se ela tiver melhores perspectivas de crescimento no longo prazo", explica.
Os analistas dizem que o longo prazo é o caminho do bom investimento em ação. "Quem quer ter um bom retorno investindo em ações deve pensar no longo prazo. No curto prazo, as perdas não se diluem. Estourando uma crise de repente, o investidor que não quer esperar pode perder muito dinheiro. É pura aposta", explica Clarissa, do Brascan.
Por Juliana Rosa e Maria Teresa Carneiro
Para o curto prazo
As carteiras de curto prazo devem ser recheadas de papéis com grande liquidez;
Não se deve concentrar os investimentos em apenas uma ação ou setor mais do que 15% ou 20% de toda a aplicação;
Observar sempre o movimento do mercado para verificar quais os setores que têm potencial de alta no momento da aplicação;
Nas operações de day trade, procurar saber se está para ser divulgado algum índice que possa influenciar as bolsas de valores; além de acompanhar as bolsas no exterior e o mercado de juros e dólar
Apostar em ações de empresas que estejam passando por algum momento importante, como privatização ou reestruturação societária;
Estabelecer limites de prejuízo;
Olhar análises gráficas para saber o melhor momento de entrar na Bolsa;
Consultar as análises fundamentalistas, que mostram o potencial de crescimento de cada empresa e setor;
Proteger-se, fazendo hedge no mercado futuro, comprando opção ou aplicando no Índice Bovespa.
Para o longo prazo
A carteira até pode ter ações menos negociadas, mas também não podem faltar as ações de maior liquidez;
Também é importante diversificar as aplicações por empresas e setores para diluir os riscos;
Escolher setores promissores e papéis sólidos;
Procurar saber se as empresas pagam bons dividendos;
Olhar análises fundamentalistas e gráficas para saber o melhor momento de comprar.
As mais indicadas pelos analistas para o longo prazo
Petrobras, Vale do Rio Doce, Gerdau, Votorantim, Telemar, Cemig, Copene, Copel, Cesp, Eletrobrás, Aracruz Celulose, Brasil Telecom, Sadia, Perdigão, Itaú, Banespa, Pão de Açúcar, Souza Cruz, Unipar, Tele Nordeste Celular (PN) e Tele Centro Sul.
Obs: No curto prazo, os analistas preferem não fazer apostas, mas citaram Petrobras, Vale do Rio Doce, Telemar, Itaú e Votorantim.