A crise financeira

Uma crise financeira é normalmente desencadeada quando há, em determinada nação, um maior número de agentes pessimistas em relação aos demais. Suas principais conseqüências são a desvalorização de ativos financeiros e a  não liquidez de diversas instituições, ou seja, a confirmação e o agravamento dos motivos que geraram o pessimismo inicial.

Em períodos normais o número de agentes otimistas e pessimistas permanece praticamente equilibrado. São eles que definem o valor dos ativos através das operações de oferta e procura por cada um deles. Nesses períodos, o valor médio dos ativos tende a manter-se estável, senão com gradativas elevações ao longo do tempo. Quando é chegada a crise, essa média tende a refletir uma desvalorização generalizada dos ativos financeiros.

Observa-se que a oferta e procura de cada ativo é sempre definida com base em expectativas futuras. Quando as expectativas são extremamente otimistas, além do que deveriam ser, observamos o surgimento do período de boom ou de "bolha" especulativa. Tais períodos não podem ser explicados pelo comportamento da economia real e acredita-se que sua causa está no prazer que os seres humanos têm de correr riscos. Quando a "bolha" estoura é desencadeado uma profunda crise que chega a afetar a economia real. Nunca se sabe o momento em que acontecerá a conversão do boom em crise.

Por fim, a crise gera o conhecido "efeito dominó" no mercado financeiro que tende a causar grandes estragos nos agentes produtivos, a não ser que a autoridade monetária tome alguma providência.

Uma crise financeira não contida a tempo, ao gerar danos às empresas da economia real, tende a elevar o desemprego que induz a uma redução na demanda agregada. A partir daí, temos um espiral de redução na atividade econômica e do nível de emprego. Uma importante função da autoridade monetária é impedir a sobrevalorização dos ativos financeiros, ou seja, não permitir que o mundo financeiro "descole" do mundo real. Isso pode ser conseguido através políticas monetárias restritivas. A história mostra-nos que os governantes nem sempre estão interessados nesse tipo de política por lhes tirar a popularidade.

Nos últimos anos, pudemos observar o desencadeamento de crises em muitas economias subdesenvolvidas, como México, Argentina, Brasil, além de diversos países do Sudeste Asiático. Em todos os casos houve ajuda financeira do FMI, mediante aceite de um ajuste estrutural. Observamos que a única nação desenvolvida atingida por uma crise foi o Japão, embora não se trate de aspecto financeiro e sim de demanda agregada.

Na economia real também existe certo grau de risco, devido à concorrência entre as empresas e da total liberdade que os capitalistas possuem para tomada de decisão. Na verdade, cada empreendedor tem que "especular" sobre seu mercado, seus concorrentes e demais fatores que formam o conjunto da economia. Considerando que o comportamento desses fatores é relativamente incerto, incorre-se em riscos. Tanto o otimismo quanto o pessimismo dos proprietários dos meios de produção também afetam diretamente a economia real. Acontece que aqui o efeito é bem mais lento do que no mundo financeiro, onde existe grande especulação desencadeando espiral de períodos de boom ou de crise.

Como as crises no mundo das finanças causam grandes estragos na economia real, alguns teóricos defendem a criação de um sistema financeiro internacional mais seguro. Esse sistema seria baseado na segmentação do espaço econômico em territórios nacionais - onde todas as transações deveriam ser realizadas em moeda local -, na inclusão de uma taxa sobre os fluxos internacionais de capitais e dos controles tanto desse fluxo quanto das flutuações cambiais.

No interior das economias observamos um sistema financeiro extremamente misto. A sugestão que tem sido feita é a da divisão desse sistema em dois: um voltado apenas a atividades de baixíssimo risco e outro ligado a operações detentora de alto grau de risco. Assim as pessoas que não estão dispostas a correrem riscos poderiam deixar suas economias nos agentes financeiros do primeiro sistema citado. Além disso, a autoridade monetária não necessitaria de gastar altos volumes de recursos para evitar o "efeito dominó" no mercado financeiro que só poderia ocorrer no segundo sistema.

Outra crítica que se faz aos sistemas financeiros que regem as nações é de que os bancos nasceram para atender grandes investidores e grandes demandadores de recursos e, com o passar do tempo, surgiram instituições financeiras voltadas aos agentes de médio porte, à "classe média". Acontece que nunca houve uma preocupação das instituições financeiras privadas em atender as classes mais baixas, simplesmente porque suas movimentações "não dão lucro" a essas instituições.

Uma alternativa nem um pouco nova é a formação de cooperativas de crédito onde, geralmente, todos os cooperados desempenham a mesma atividade econômica e, portanto, pode conhecer o risco de inadimplência com maior facilidade. Atualmente, temos visto cooperativas evoluindo ao estágio de bancos cooperativos de forma que possam financiar projetos coletivos que visem atender os interesses dos cooperados.

Outra organização financeira voltada às classes menos favorecidas é o "banco do povo" baseado no modelo de Bangladesh, lá denominado Grameen Bank, onde se observou que o financiamento com custos financeiros menores podem retirar indivíduos da linha de miséria.